Charles Ponzi
“Dobre o seu dinheiro em 90 dias.
” Essa foi a promessa que Charles Ponzi fez primeiro a seus amigos em 1920. E
cumpriu, pelo menos de começo. Logo, as pessoas começaram a fazer fila para
depositar suas economias com o aparente gênio das finanças. Em fevereiro
daquele ano, ele tinha US$ 5 mil. Em maio, US$ 420 mil – o que dá US$ 5 milhões
em dinheiro de hoje. Pessoas começaram a hipotecar suas casas para investir com
ele.
O milagre, segundo Ponzi, era
comprar cupons de reembolso postal na Itália e resgatar seu valor nos EUA – por
questões de câmbio, com o dólar valendo mais que a lira, isso geraria lucro de
400%. Em 26 de junho, o jornalista Clarence Barron estimou que seriam
necessários 160 milhões de cupons postais para manter o esquema vivo. Existiam
apenas 27 mil em circulação.
Qual era o segredo de Ponzi
então? Ele usava o investimento de quem entrava para pagar quem saía. Como os
lucros eram altos, a maioria nem sacava seus investimentos. Em 11 de agosto,
após as revelações da imprensa, tudo veio abaixo. US$ 20 milhões (US$ 240
milhões em dinheiro de hoje) foram perdidos.
Ponzi curtiu uma temporada em
Alcatraz e veio dar em praias brasileiras. Morreria pobre, no Rio de Janeiro,
em 1949.
Frank Abagnale
Este quase dispensa
apresentações. Nenhum outro picareta nesta lista foi interpretado no cinema por
Leonardo DiCaprio – em Prenda-me se For Capaz, de 2001. E nenhum era tão jovem:
Frank tinha 16 anos quando começou a se passar por um piloto de avião da PanAm.
Ele nunca pegou num manche,
assim como não atenderia ninguém como chefe da equipe médica num hospital
pediátrico, nem faria qualquer coisa além de pegar cafezinho quando fingiu ser
advogado. Era pura lábia, e fez tudo antes dos 21 anos, até ser preso. Após
cinco anos de cadeia, tornou-se consultor de segurança.
Victor Lustig
O elegante cavalheiro
austríaco começou pela “caixa de dinheiro”. Uma pequena máquina que,
aparentemente, imprimia notas perfeitas de US$ 100. Ele vendia a máquina por
milhares de dólares e ela só “imprimia” duas notas. Que estavam lá desde
sempre.
Em 1925, ele vendeu a Torre
Eiffel. Assumindo a identidade de “diretor geral do Ministério de Correios e
Telégrafos”, convidou seis empresários do ramo da sucata para uma reunião. Lá
ele os informou que o governo francês não tinha verba para manter a Torre
Eiffel, e a estava vendendo por sucata. Conseguiu que um dos empresários desse
a ele uma mala de dinheiro.
Lustig ainda tapearia ninguém
menos que Al Capone. Ele convenceu o mafioso a investir US$ 50 mil num esquema
de ações. Devolveu tudo três meses depois, dizendo que, infelizmente, o negócio
tinha falhado. Como recompensa por sua “honestidade”, Al Capone o premiou com
US$ 5 mil – e isso era tudo o que o picareta queria.
Princesa Caraboo
Era 3 de abril de 1817 quando
um sapateiro topou com uma moça perdida pelas ruas da vila de Almondsbury,
Inglaterra. Suas palavras eram incompreensíveis e ela vestia largas roupas
orientais, incluindo um turbante. Levada para a casa do magistrado local, ela
mostrou-se interessada em imagens chinesas e referiu-se a si própria como
Caraboo.
Sem ter onde viver, acabou
posta na cadeia – onde um marinheiro português conseguiu se comunicar com ela.
Caraboo era da ilha de Javasu no Oceano Índico, e tinha sido capturada por
piratas, até saltar no Canal de Bristol. Solta, ela se tornou uma celebridade
local, escrevendo textos em seu alfabeto, praticando arco e esgrima e até
tomando banho pelada no rio local – tudo isso inconcebível para uma dama
britânica da época. Também rezava para o deus “Allah-Tallah”. Sua autenticidade
foi “comprovada” por um acadêmico local.
A farsa durou até junho,
quando foi identificada por uma ex-patroa. Era Mary Willcocks, britânica da
gema, que havia sido demitida de um orfanato.
Wilhelm Voigt
“Parem e me sigam! ” O venerável
oficial prussiano, já passado dos 50, exigia respeito. Sem contestar, os quatro
granadeiros e um sargento o seguiram. Passando pelo campo de treino de tiro,
ele pegou mais seis. Seu destino era o trem para Köpenick, atual bairro de
Berlim que então, em 1906, era uma cidade independente. Ao desembarcar, o grupo
recebeu ordens para cercar a prefeitura, cortar comunicações e prender o
prefeito. O oficial então confiscou 4 mil marcos dos cofres, deixando um
recibo. E escafedeu-se, largando seus subalternos na guarda.
Acontece que ele não era
oficial. Esse foi o golpe final de Wilhelm Voigt, um pé de chinelo de 55 anos,
vindo de várias passagens pela prisão. Ele seria pego, mas a história era tão
insólita que o público se comoveu com ele. Era uma lição a respeito dos
excessos da hierarquia militar alemã. Assim, o “capitão” ganhou o perdão do
Kaiser Guilherme 2o e morreu livre. Hoje é honrado com placa e estátua em
Berlim.
Frédéric Bourdin
Existe algo de patético nos
golpes do camaleão francês, que afirma ter assumido 500 identidades entre 1990
e 2007. Filho de mãe solteira e não se dando bem com o padrasto, ele decidiu se
passar pelo americano Nicholas Barclay em 1997. O jovem de San Antônio, Texas,
havia desaparecido três anos antes. Deveria estar com 16 e tinha olhos azuis.
Bourdin tinha 23, olhos castanhos e falava com sotaque francês pesadíssimo.
Incrivelmente, foi acolhido
pela família Barclay e passou cinco meses com eles, até ser descoberto por um
detetive particular. Bourdin continuaria a se passar por adolescente. Seu
último golpe foi em 2005, quando se fez passar por “Francisco
Hernandes-Fernandez”, órfão espanhol de 15 anos. Então ele tinha 31 e estava
ficando calvo. Disfarçou-se tentando copiar o jeito de andar dos jovens,
depilando a barba e usando um boné. A farsa durou um mês.
Ferdinand Demara
Em suas duas décadas de
carreira, ele se passou por monge católico, engenheiro, xerife, enfermeiro,
advogado, cientista, professor e médico. Mas não são os números que fazem a sua
fama, e sim as ações: Ferdinand Demara levava suas farsas às últimas
consequências. Em seu período como “monge”, fundou uma universidade religiosa –
que existe até hoje.
O ato máximo de Demara veio
durante a Guerra da Coreia. Ele embarcou num destroier da Marinha canadense
dizendo ser o Dr. Joseph C. Cyr. A guerra era real, e ele teve que lidar com
pacientes reais. Usando uma quantidade copiosa de penicilina, acabou com uma
infecção que se alastrava pelo navio. Um dia, 16 feridos de guerra foram
trazidos ao convés, necessitando cirurgia urgente. Demara se enfurnou em sua
sala com volumes de medicina. Quando apareceu de volta, operou todos os pacientes
– fazendo inclusive cirurgia cardíaca com cavidade torácica aberta. Acredite se
quiser, ninguém morreu.
Demara publicou suas
peripécias na revista Life. Ficou famoso, o que restringiu severamente suas
opções de farsa. Então virou um pastor batista – de verdade. Cursou teologia e
passou a trabalhar em hospitais e obras de caridade, como capelão. Seria ele a
dar a extrema-unção ao ator Steve McQueen, seu amigo, em 1980.
Gregor MacGregor
Ele nunca precisou assumir um
nome falso. Por que faria? Era membro do clã MacGregor, uma das mais notáveis
famílias da nobreza escocesa. Ao chegar a Londres, em 1821, era um herói de
três países, lutando por Portugal e Reino Unido nas guerras napoleônicas, e
depois ao lado de Símon Bolívar na independência de metade da América do Sul.
Tudo verdade.
Mesmo assim, ele foi um grande
picareta. MacGregor falou que, em suas aventuras, fora feito “cacique” da nação
de Poyais, um país na América Central que tinha exército, poder executivo,
legislativo e judiciário, e só estava esperando por investidores e imigrantes.
Era a terra da oportunidade e
MacGregor recebeu uma dinheirama, emitindo “títulos governamentais” como
promessa de pagamento. Os colonizadores chegaram em 1822, procurando pela
capital “St. Joseph”. Não acharam uma cabana de pé. Tudo o que havia lá era a
floresta tropical de Honduras. Metade morreria de desnutrição e malária.
MacGregor nunca seria preso.
Usando de sua reputação, enrolou os juízes. Voltou para a Venezuela, onde
ganhou o título de general e foi enterrado com honras de herói da nação.
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