O dia 25 de junho de 2009
ficará marcado para sempre na memória dos fãs de Michael Jackson. Nesta data,
foi anunciada a morte do cantor, depois de sofrer uma parada cardíaca na casa
em que morava, em Los Angeles, Estados Unidos. A morte prematura do rei do pop
foi atribuída a uma overdose de remédios que Michael Jackson tinha tomado horas
antes de dormir.
O que aconteceu com o cantor é
apenas um exemplo dos riscos que os medicamentos apresentam, caso sejam mal
administrados. Para Camila Costa, professora do Departamento de Farmácia da
Universidade Federal do Paraná (UFPR), o maior problema está no excesso. “Medicamentos
como anti-inflamatórios, analgésicos, relaxantes musculares e antibióticos são
perigosos se usados em grandes quantidades, geralmente acima do limite
recomendado pela bula”, informa.
Consumo arriscado
Por isso, engana-se quem
acredita que apenas os remédios que necessitam de receita são perigosos. O uso
indiscriminado dos fármacos pode trazer danos consideráveis à saúde, mesmo uma
simples aspirina em doses acima do recomendado. Até complexos vitamínicos
ingeridos por muitos anos em demasia apresentam riscos ao paciente.
Mas com a correria do dia a
dia, fica impossível procurar um médico toda vez que sentimos alguma dor.
Camila recomenda aos pacientes que procurem sempre pelos farmacêuticos. “Apesar
desses profissionais não poderem fazer um diagnóstico, eles podem oferecer uma
medida paliativa para tentar solucionar o problema daquele momento”, completa.
Automedicação
A ansiedade pela cura, a
dificuldade de acesso de parte da sociedade aos serviços públicos de saúde e a
falta de informação a respeito da doença podem ser descritos como fatores que
colaboram para a automedicação.
Para Camila, isso nem sempre é
ruim, mas é necessário consultar um médico caso o problema persista. De acordo com um editorial da Associação
Médica Brasileira, a automedicação é um risco enorme, pois pode mascarar
diagnósticos na fase inicial da doença.
Por isso, a palavra-chave é
bom senso. “É importante ressaltar que o uso contínuo de qualquer medicamento
pode causar tolerância no organismo e não ter a ação que deveria” ressalta
Everton Dombeck, médico cardiologista especialista em medicina paliativa.
Confira uma lista que
preparamos de alguns medicamentos aparentemente inocentes, mas que podem trazer
problemas para a sua saúde caso sejam usados de forma incorreta.
1. Vitaminas
Qual vitamina você vai querer,
A, B, C, D ou E? Peça pela letra! Bom, não é bem assim. Entrar na farmácia e
escolher entre as diversas combinações disponíveis para venda não é o caminho
certo para tentar suprir deficiências de organismo. “Milagres são prometidos
por complexos vitamínicos, mas seu consumo pode representar mais riscos do que
benefícios”, explica Camila.
Se a quantidade ingerida de
vitaminas é muito grande ou se a pessoa apresenta problema nos rins, pode ser
que o excesso ingerido não consiga ser eliminado pelo corpo. Isso leva ao
acúmulo de vitaminas no organismo, chamado de hipervitaminose. Essa condição
pode trazer riscos à saúde, como vômitos, diarreia, problemas no fígado,
arritmias, osteoporose, perda de cabelo, irritabilidade, fraqueza muscular e
inúmeros outros sintomas.
Além disso, as vitaminas podem
aumentar o risco de morte, segundo um estudo publicado pela Associação Médica
Americana. A ingestão de complementos
que contenham vitaminas A, E ou betacaroteno está ligada a um aumento de 5% nos
riscos de mortalidade em um grupo de cerca de 181 mil pessoas.
2. Dipirona
A dipirona sódica é um
medicamento que é utilizado principalmente como analgésico e antitérmico. A
droga permaneceu disponível mundialmente até a década de 70, quando foi
descoberto que havia risco de ela causar agranulocitose, uma doença muito
perigosa e potencialmente fatal.
Também conhecida como
agranulocitopenia, a agranulocitose é uma doença aguda do sangue, caracterizada
pela ausência de leucócitos granulosos. Estas células são as principais
barreiras de defesa contra as infecções, sendo assim, aumenta o risco de o
paciente contrai-las.
Desde então, alguns países
como Estados Unidos, Japão, Austrália, e grande parte dos que integram o
continente europeu, baniram o medicamento. No Brasil, a dipirona é o analgésico
e antitérmico mais usado, mas entrou na lista de remédios perigosos.
3. Aspirina
Para a população em geral, a
aspirina é uma medicação banal, que pode ser usada sem muito critério. Mas ao
contrário do que a maioria pensa, ela é uma droga que não está isenta de
efeitos colaterais e nem mesmo de reações alérgicas.
Milhares de pessoas tomam
aspirina todos os dias para prevenir ataques do coração e derrames ou ainda
para diminuir o risco de desenvolver um câncer. Entretanto, um estudo feito por
pesquisadores de Londres mostra que esse medicamento pode não ser tão seguro,
dado que seu uso contínuo pode trazer mais problemas do que benefícios.
Pela alteração na formação de
plaquetas, a aspirina dificulta a formação de coágulos em nosso corpo. Esse
fato pode provocar hemorragias, desde leves até severas. Por esse mecanismo, a
formação de um trombo vascular pode ser evitada, mas em seu lugar ocorrer um
sangramento que pode provocar um acidente vascular de maior gravidade. Além
disso, os acidentes vasculares cerebrais hemorrágicos são mais frequentes
quando o paciente está recebendo o medicamento.
4. Anticoncepcional
Um estudo divulgado em
novembro do ano passado pela Food and Drug Administration (FDA), a agência
reguladora de remédios dos Estados Unidos, mostra que existe um risco maior de
trombose venosa em mulheres que tomam anticoncepcional contendo o hormônio
drospirenona.
As usuárias de
anticoncepcionais orais apresentam até quatro vezes mais chances de
apresentarem trombose venosa profunda quando comparadas à população em geral.
Esta doença possui como complicação o tromboembolismo pulmonar, que é uma
afecção grave com alto índice de mortalidade.
5. Paracetamol
Consumir uma dose um pouco
acima da recomendada do analgésico paracetamol por um longo período de tempo –
mesmo que apenas por uma questão de dias – pode causar graves danos à saúde, de
acordo com pesquisadores ingleses.
Eles descobriram que muitas
pessoas que usam os comprimidos contra dor não percebem quando tomam mais do
que o permitido, e elas não se dão conta dos danos causados pelo consumo
excessivo do remédio ao fígado.
Ingerir paracetamol em excesso
conduz à “overdose escalonada”, que pode ocasionar problemas no fígado e
cérebro, além da necessidade de diálise ou ajuda para respirar. Aumentam também
as chances de morte devido a estas complicações.
6. Antibiótico
Os antibióticos são venenos
seletivos, que matam bactérias específicas sem afetar as células do nosso
corpo. Mas seu uso indiscriminado é um problema de saúde muito sério. O uso imoderado favoreceu o
contato de diversas bactérias com múltiplos antibióticos, as quais, devido aos
seus mecanismos de defesa, sofreram alterações (mutações) para conseguir
conviver com os medicamentos, tornando-se resistentes. Ou seja, as bactérias
apresentaram, progressivamente, sinais de resistência e até mesmo de
indestrutibilidade aos antibióticos.
Isso quer dizer que o uso
abusivo pode fazer com que bactérias em seu corpo se tornem imunes aos
antibióticos. Mais de 25 mil pessoas morrem por ano na Europa por causa de
microrganismos resistentes.
Aqui o risco é duplo, pois
prejudica a sua saúde e de toda humanidade. O uso generalizado ou incorreto
deste tipo de medicamento pode fazer a raça humana regressar à primeira metade
do século XX, quando as doenças infectocontagiosas eram as grandes responsáveis
pela taxa de mortalidade.
.....
Medicamentos são produtos
importantes para a sua saúde, mas também são produtos de risco. Por isso,
consulte sempre um profissional antes de ingeri-los.
E nunca se esqueça: a
diferença entre o remédio e o veneno está apenas na dose.
Pesquisas / Montagem / Revisão / Edição: JF Hyppólito
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