Em 2009 foi aprovado pelo
Senado brasileiro o dia 27 de Janeiro (data em que nasceu Tom Jobim, em 1927)
como "Dia Nacional da Bossa Nova". Inicialmente este termo referia-se
a um jeito de cantar e tocar, até tornar-se sinônimo de um dos gêneros musicais
brasileiros mais conhecidos em todo o mundo. No final do ano de 1957, um show
realizado por Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli, Sylvia Telles, Roberto Menescal e
Luiz Eça no Clube Hebraica (RJ) já era anunciado como "...grupo bossa nova
apresentando sambas modernos".
O grupo foi aumentando,
passando também a ser integrado por Ronaldo Bôscoli, Chico Feitosa, Luiz Carlos
Vinhas, os irmão Mário, Oscar, Iko e Léo Castro Neves e João Gilberto, entre
outros. João Gilberto tornou-se a grande referência da bossa nova por ter
"inventado" a batida do violão.
A nova batida podia ser ouvida
nas faixas "Chega de saudade" (Tom Jobim e Vinícius de Morais) e
"Outra vez" (Tom Jobim), no LP de Elizeth Cardoso "Canção do
amor demais", lançado em 1958, no qual João Gilberto gravou o
acompanhamento de violão que caracterizaria a batida da bossa nova e que o
tornaria conhecido no mundo inteiro. O LP, gravado pelo selo Festa, foi
inteiramente dedicado à nova dupla de compositores Tom e Vinícius, mas na
verdade a estrela do disco era Vinícius, visto que o interesse era o de gravar
suas poesias. Segundo Ruy Castro (CASTRO, Ruy. "Chega de saudade".
São Paulo: Companhia das Letras, 1990) este disco "ao contrário do que se
pensa hoje, não foi um sucesso quando saiu em maio de 1958" (p.175).
No mesmo ano, João Gilberto
gravou um 78 rpm contendo "Chega de saudade" e sua composição
"Bim-Bom" e, no ano seguinte, lançou o LP "Chega de
saudade". Essa música conta com cerca de 100 regravações, realizadas por
artistas nacionais e estrangeiros. Segundo Tom Jobim: "A bossa nova de
'Chega de saudade' está quase toda na harmonia, nos acordes alterados, pouco
utilizados por nossos músicos da época, e na nova batida de violão executada
por João Gilberto" (SEVERIANO, Jairo, HOMEM DE MELLO, Zuza. "A canção
no tempo" vol. 2. São Paulo: 34, 1998, pp. 20-22).
João Gilberto foi e ainda é
referência para músicos de diversas gerações, incluindo Caetano Veloso, que
assegura ter-se decidido a seguir carreira musical após ouvi-lo pela primeira
vez. Por essa época, Tom Jobim já era músico conhecido na noite carioca. Sua
obra contém músicas que fazem parte do repertório clássico da bossa nova, como
"Desafinado" e "Samba de uma nota só", compostas em
parceria com Newton Mendonça, e que seriam os dois primeiros temas da bossa
nova a entrarem e serem gravados no mercado norte-americano a partir de 1960.
Ao lado de Vinicius de Moraes
compôs, além de "Chega de saudade", outra das mais representativas
deste gênero, "Garota de Ipanema", que se tornou a canção brasileira
mais conhecida em todo o mundo, depois de "Aquarela do Brasil" (Ary
Barroso), com mais de 169 gravações, incluindo a primeira, realizada em 1963
por Tom Jobim (Verve), a de Sarah Vaughan em 1964 (Mercury), a de Stan Getz em
1966 (RCA Victor), a de Frank Sinatra e Tom Jobim em 1967 (Reprise), e a de
Ella Fitzgerald em 1971 (Pablo), entre as de outros artistas nacionais e estrangeiros.
Em 1962, foi realizado o
histórico concerto no Carnegie Hall de Nova York, com a presença de Tom Jobim e
João Gilberto, entre outros, inclusive o violonista Bola Sete, a cantora Carmen
Costa, o percussionista José Paulo e o pianista argentino Lalo Schifrin, que
pouco tinham a ver com a bossa nova. Por outro lado, apresentaram-se também
Oscar Castro Neves, Agostinho dos Santos, Luiz Bonfá, Carlos Lyra, Sexteto
Sérgio Mendes, Roberto Menescal, Chico Feitosa, Normando Santos, Milton Banana
e Sérgio Ricardo. O espetáculo abriu as portas do mundo para este gênero.
No cartaz, o evento
intitulava-se "Bossa Nova - New Brazilian Jazz". O show foi
transmitido ao vivo para o Brasil pela Rádio Bandeirantes. Ressaltam-se como
precurssores da bossa nova, entre outros, Garoto, Bola Sete, Laurindo de
Almeida, Luís Bonfá, João Donato, Janet de Almeida, Djalma Ferreira, Johnny
Alf, Dolores Duran, Dick Farney, Lúcio Alves, Agostinho dos Santos, Dóris
Monteiro, Elizeth Cardoso, Maysa, Silvinha Telles e Tito Madi. Numa primeira
fase (1958-1962) destacam-se, além de Tom e Vinícius, compositores como Newton
Mendonça, Aloysio de Oliveira, Billy Blanco, Carlos Lyra, Baden Powell, Oscar
Castro Neves, Roberto Mesnescal, Ronaldo Bôscoli, Durval Ferreira, Maurício
Einhorn, Geraldo Vandré, Sérgio Ricardo, Sérgio Mendes, Luiz Eça e Chico
Feitosa.
Os conjuntos vocais foram
muito freqüentes nessa época, ressaltando-se Os Cariocas, que inicialmente era
formado por Ismael Neto, Severino Filho, Badeco, Waldir Viviani e Quartera, e
posteriormente como quarteto, sem Ismael Neto, que morreu logo no início da
bossa nova, e em seguida com a substituição de Waldir Viviani por Luiz Roberto.
Numa segunda fase (1962-1966), destacam-se aqueles que podem ser considerados
os filhos da bossa nova, como os irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle, Edu Lobo e
Ruy Guerra, Pingarilho e Marcos Vasconcelos, Dori Caymmi e Nélson Motta,
Francis Hime e Lula Freire, Wanda Sá, Wilson Simonal, Orlandivo e Sílvio César.
Mais tarde, diversos
compositores utilizaram e vêm utilizando o gênero em suas composições, como
Chico Buarque, Toquinho, Caetano Veloso, Gilberto Gil, e mais recentemente
Cazuza, só para citar alguns. Dentre os instrumentistas mais atuantes na época
estão os integrantes dos grupos João Donato Trio (João Donato, Tião Neto e
Milton Banana), Bossa Três (Luís Carlos Vinhas, Tião Neto e Edson Machado),
Tamba Trio (Luizinho Eça, Bebeto Castilho e Hélcio Milito), Bossa Rio (Sérgio
Mendes, Tião Neto, Edson Machado, Raulzinho, Edson Maciel e Hector Costita),
Copa 5 (Meirelles, Tenório Júnior, Pedro Paulo, Manoel Gusmão e Dom Um Romão),
Roberto Menescal Sexteto (Roberto Menescal, Eumir Deodato, Ugo Marotta, Henry,
Sérgio Barroso e João Palma), Sambalanço Trio (César Camargo Mariano, Humberto
Kléber e Airto Moreira), Sambrasa (Hermeto Pascoal, Humberto Claiber e Airto
Moreira), Manfredo Fest (Manfredo, Mathias e Heitor), Milton Banana Trio
(Milton Banana, Wanderley e Guará), Rio 65 (Salvador, Sérgio Barroso e Edson
Machado), Salvador Trio (Salvador, Edson Lobo e Victor Manga), 3D (Antônio
Adolfo, Carlos Monjardim e Nelsinho), Eumir Deodato e Os Catedráticos, além do
grupo dos irmãos Castro Neves.
O Bossa Três, numa segunda
fase, contou com a participação de Ronnie Mesquita e Otávio Bailey, assim como
no Tamba Trio entraram os músico Dório e Ohana. Outros instrumentistas foram de
igual importância, como Vitor Assis Brasil, Jorginho da Flauta, Paulo Moura,
Franklin da Flauta, Formiga, Norato, Aurino e Juarez Araújo. Uma das figuras
mais significativas da bossa nova foi o saxofonista, compositor, arranjador e
professor de boa parte dos instrumentistas e compositores desta época, Moacir
Santos, que foi o arranjador do célebre disco "Sérgio Mendes e Bossa
Rio", e depois "Vinícius por Elizeth".
Na atualidade, realizam-se
inúmeros eventos dedicados à bossa nova, especialmente no Brasil e no Japão.
Entre 2000 e 2001, foram realizados vários shows intitulados "40 anos de
bossa nova", com Roberto Menescal e Wanda Sá, apresentado no Centro de
Convivência Cultural de Campinas, São Paulo, entre outros lugares, além
inúmeros palcos cariocas.
BIBLIOGRAFIA CRÍTICA:
ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira - Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Edição Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.
AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008.