Os Cem Melhores Contos
Brasileiros do Século é uma obra que reúne textos de diversos estilos, origens
e décadas. A divisão do livro é temporal, há uma parte destinada aos autores da
primeira década do século XX, dos anos 20 e 30, além de subdivisões para as
décadas posteriores. Em alguns casos, um mesmo escritor aparece mais de uma vez
na mesma década ou em décadas distintas. Como se trata de uma antologia a obra
apresenta um interessante panorama do que foi produzido no gênero conto ao
longo do período.
Ítalo Moriconi
Ítalo Moriconi é o organizador
dos consagrados: Os cem melhores contos brasileiros do século e. Os cem
melhores poemas brasileiros do século, ambos editados pela Objetiva. É doutor
em Letras e professor de literatura brasileira e comparada da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro.
Antes do início de cada parte
há um pequeno texto introdutório que revela as principais características de
cada uma e fica claro, segundo o próprio organizador, Ítalo Moriconi, que os
contos escritos a partir da década de 60 representam um grande salto de
qualidade na ficção curta brasileira.
Nomes como Clarice Lispector,
que construíram uma sólida carreira também nesse gênero, surgem nessa época.
Dessa forma, é talvez a parcela mais contemporânea do livro que traga
possibilidades interessantes de narrativa. Há textos fantásticos ou alegóricos,
como O arquivo de Victor Giudice e Nos olhos do intruso de Rubens Figueiredo, e
também contos muito próximos da crônica, como o texto de Luís Fernando Veríssimo.
Há ainda espaço para temáticas
muito distintas, como o texto sobre sexo de Rubem Fonseca e a narrativa que
toca no tema da homofobia de Caio Fernando Abreu. Portanto, pode-se observar
que se trata de uma coletânea muito ampla, e a tarefa de apontar linhas
temáticas ou tendências estilísticas se torna muito complicada, dessa forma, a
diversidade passa a ser a principal característica do livro.
Resumos de alguns contos do
livro
O homem que sabia Javanês, de
Lima Barreto:
A história é narrada por seu
protagonista, o cônsul Castelo, a um amigo chamado Castro na mesa de um bar. O
narrador conta que chegou ao rio de janeiro sem recursos e que viu no jornal um
anúncio para o cargo de professor de javanês e, mesmo sem saber tal língua,
acreditou que poderia conseguir o cargo de aprendesse algumas palavras. De
fato, o emprego foi conquistado sem maiores esforços, o aluno era um senhor já
de idade bastante avançada que havia herdado um livro do pai e que gostaria de
conhecer o que tal obra dizia. Castelo
não só conseguiu prosseguir com sua farsa como caiu nas graças do senhor, que o
recomendou a um Visconde que conseguiu para ele um emprego no consulado. A fama
do homem que sabia javanês cresceu a tal ponto que ele foi enviado a um
congresso internacional de linguística e ainda assim foi capaz de sustentar a
mentira. Ao fim do conto ele narra sua prosperidade mantida às custas de seu
pretenso conhecimento de uma língua exótica.
Baleia, conto de Graciliano
Ramos:
A cachorra Baleia está
terrivelmente enferma. O conto narra como seu dono, Fabiano, decide
sacrificá-la para evitar que se prolongue seu sofrimento. O animal tenta evitar
que isso aconteça, porém, dada sua grande debilitação, acaba sendo morto. O
conto termina com a imaginação da cachorra sobre uma realidade perfeita para
ela, uma espécie de chegada ao paraíso.
Em Amor, de Clarice Lispector:
Ana, uma mulher simples, viaja
de bonde enquanto reflete sobre a vida. A visão de um cego fora do bonde que
mascava chicletes desencadeia um processo de revelação em sua vida.
Inexplicavelmente, esse fato a leva a repensar tudo o que sabia até então sobre
o amor e o sentido da vida.
O Arquivo, de Victor Giudice:
É um conto fantástico que
apresenta a vida de João, funcionário de um escritório que progressivamente vai
perdendo seus direitos trabalhistas. Esse processo, porém, é apresentado como
altamente positivo por seus superiores. A cada novo corte de salário ou de dias
de folga todos comemoram como se tais fatos fossem muito positivos. No fim do
processo, já sem salário ou qualquer tempo livre, João se transforma no arquivo
que dá título ao conto.
Em Aqueles dois, de Caio
Fernando Abreu:
Saul e Raul são dois
emigrantes que trabalham na mesma empresa numa grande cidade do Sudeste. No
isolamento de suas vidas acabam se tornando grandes amigos, fato que desperta a
desconfiança de todos na empresa em que trabalham sobre a verdadeira natureza
de sua relação. No fim ambos são demitidos por essas desconfianças.
No conto Nos olhos do intruso,
de Rubens Figueiredo:
Um homem começa a narrar como
um dia no teatro encontrou-se consigo mesmo. Depois desse encontro, uma série
de acontecimentos insólitos passaram a acontecer com ele, pessoas que ele não
conhecia o cumprimentavam na rua, por exemplo. Até que um dia esse homem foi acordado
com uma ligação telefônica que o convidava para um enterro. No velório se deu
conta de que o defunto era o seu duplo. A partir desse dia passou a ser
ignorado pelas pessoas, tratado como um intruso. Dessa forma, resolveu mudar de
cidade. Um dia, em sua nova região encontrou novamente um homem muito parecido
com ele, porém dessa vez foi o outro quem se espantou e o mesmo processo teve
início outra vez.
Fonte: http://educacao.globo.com