E se for tudo verdade, do
jeitinho que estão nas Escrituras? Há muita gente tentando explicar o
inexplicável. Colin Humphreys é um deles. O doutor e PhD em física e professor
titular da Universidade de Cambridge, em seu livro O Milagre do Êxodo, estuda
toda a série de eventos bíblicos no episódio da fuga dos hebreus de sua
escravidão no Egito e prevê explicações naturais para que o povo chegasse à
terra prometida.
A presidente da Academia
Brasileira de Neurologia (ABN), Elza Dias Tosta, também
levantou algumas hipóteses para dois dos mais famosos milagres do Novo
Testamento. Mas o professor é um homem de fé e diz que essas bem-aventuradas
coincidências só podem ser obra divina, como uma sequência de dominós que só
precisou de um peteleco de Deus para começar a cair.
As 10 pragas do Egito
"Tu falarás tudo o que eu
te mandar; e Arão, teu irmão, falará a Faraó que deixe ir os filhos de Israel
da sua terra. Eu, porém, endurecerei o coração de Faraó, e multiplicarei na
terra do Egito os meus sinais e as minhas maravilhas. Faraó, pois, não vos ouvirá;
e eu porei minha mão sobre o Egito, e tirarei meus exércitos, meu povo, os
filhos de Israel, da terra do Egito, com grandes juízos. Então os egípcios
saberão que sou o Senhor, quando estender a minha mão sobre o Egito, e tirar os
filhos de Israel do meio deles." Êxodo 7:2-5.
A mão do Senhor sobre o Egito
foi lançar as 10 pragas (veja a lista na página ao lado) sobre o povo que
escravizava os judeus a fim de convencer o faraó Ramsés II de deixar seus
escravos partirem para alguns dias de oração. Segundo Humphreys, as pragas não
passaram de uma sequência de acontecimentos naturais, que começa com um surto
de algas tóxicas que cresceram no antigo delta do rio Nilo matando peixes e
dando à água um aspecto avermelhado e um cheiro insuportável.
Por isso, rãs e
sapos teriam fugido de seu habitat natural para a vila, gerando a segunda
praga. Em seguida, sem predadores - já que os sapos estavam morrendo - moscas
começaram a invadir as casas e estábulos, transmitindo doenças que mataram o
rebanho - quarta e quinta pragas. A sexta peste citada pelo Êxodo, as bolhas e
os ferimentos que surgiram na pele das pessoas, também teria sido causada por
doenças transmitidas pelas moscas.
A chuva de granizo de
proporções catastróficas seria, da mesma forma, um evento natural, pura
coincidência. Com o solo molhado, gafanhotos encontravam terreno ideal para
depositar ovos, o que leva à oitava praga. Com o vento vindo do leste em
direção ao Egito, os gafanhotos naturalmente seguiram aquela direção,
apavorando os egípcios.
Como explicação para a nona
praga, Humphreys acredita em uma particularmente densa tempestade de areia, o
que seria comum naquela época do ano, próxima ao mês de março. A derradeira
praga, que convenceria o poderoso faraó a abrir mão de seus escravos por alguns
dias foi também a mais cruel. Todos os filhos primogênitos das famílias
egípcias - inclusive do faraó - morreram.
Da mesma forma, todos os primogênitos
dos animais de corte também. A explicação do livro de Humphreys é que, com o
granizo, os alimentos tenham ficado úmidos e gerado o nascimento de um
microorganismo altamente tóxico. Como os filhos mais velhos eram privilegiados,
foi destinada a eles mais comida - para o azar deles, aquela mesma que ficou
envenenada depois da tempestade.
Cruzando o Mar Vermelho
Então Moisés estendeu a sua
mão sobre o mar, e o Senhor fez retirar o mar por um forte vento oriental toda
aquela noite; e o mar tornou-se em seco, e as águas foram partidas. E os filhos
de Israel entraram pelo meio do mar em seco; e as águas foram-lhes como muro à
sua direita e à sua esquerda. Êxodo 14:21-22.
A primeira explicação sobre a
travessia do Mar Vermelho é que os hebreus o teriam feito através do Golfo de
Aqaba, que tem largura máxima de 24 quilômetros. Mesmo assim, andar 24
quilômetros - ou mesmo 24 centímetros - sobre as águas é igualmente difícil.
Segundo a Bíblia, um vento soprou de leste uma noite inteira e o mar se abriu,
deixando os judeus passarem. Pela manhã, o mar se fechou novamente, e, para a
sorte dos hebreus, bem em cima dos egípcios que os perseguiam.
A explicação para o feito
seria o fenômeno chamado wind setdown, durante o qual uma forte rajada de vento
começa a soprar e para subitamente horas depois. Seria esse vento o causador do
deslocamento da água que permitiu a passagem dos fugitivos. É claro que
Humphreys não sabe explicar como tudo aconteceu na hora certa. Para o
especialista, "são milagres de timing".
Transformar água salgada em
doce
Então chegaram a Mara; mas não
puderam beber das águas de Mara, porque eram amargas; por isso chamou-se o
lugar Mara. E o povo murmurou contra Moisés, dizendo: Que havemos de beber? E
ele clamou ao Senhor, e o Senhor mostrou-lhe uma árvore, que lançou nas águas,
e as águas se tornaram doces. Ali lhes deu estatutos e uma ordenança, e ali os provou.
Êxodo 15:23-25.
A explicação mais próxima para
que o local a que os judeus chegaram logo após cruzar o Mar Vermelho tenha sido
chamado de Mara é que essa seria originalmente uma palavra em hebraico que quer
dizer "água salgada". E foi isso que encontraram, sedentos, após três
dias de viagem. Quando chegaram a um lugar que era conhecido por ter água
potável,e encontraram água salgada, se desesperaram.
A explicação é que a mesma
tempestade que teria aberto o Mar Vermelho teria também carregado minerais para
a fonte da água que brota em Mara. Moisés teria colocado um pedaço não de
qualquer árvore, mas de acácia, que, queimada, se transforma em carvão vegetal
- perfeita para filtrar a água.
Cruzando o Rio Jordão
E quando os que levavam a arca
chegaram ao Jordão, e os seus pés se molharam na beira das águas (porque o
Jordão transbordava sobre todas as suas ribanceiras, todos os dias da ceifa),
pararam-se as águas, que vinham de cima; levantaram-se num montão, mui longe da
cidade de Adão, que está ao lado de Zaretã; e as que desciam ao mar das
campinas, que é o Mar Salgado, foram de todo separadas; então passou o povo em
frente de Jericó. Josué 3:15-16.
No final da jornada, foi
preciso cruzar o rio Jordão, para chegar à Terra Prometida. Já sem Moisés, mas
sob a tutela de Josué, seu sucessor, outro milagre aconteceu. O rio parou de
correr e os hebreus puderam chegar secos do outro lado. A explicação seria, de
acordo com Humphreys, a seguinte: um deslizamento de terra causado por um
terremoto impediu que o rio seguisse seu fluxo e abriu passagem para que todos
atravessassem sem problemas. Segundo o pesquisador, o mesmo fenômeno já
aconteceu no rio Jordão pelo menos dez vezes, portanto seria uma explicação
razoável.
Ressurreição de Lázaro
E alguns deles disseram: Não
podia ele, que abriu os olhos ao cego, fazer também com que este não morresse?
Jesus, pois, movendo-se outra vez muito em si mesmo, veio ao sepulcro; e era
uma caverna, e tinha uma pedra posta sobre ela. Disse Jesus: Tirai a pedra.
Marta, irmã do defunto, disse-lhe: Senhor, já cheira mal, porque é já de quatro
dias. Disse-lhe Jesus: Não te hei dito que, se creres, verás a glória de Deus?
(...) E, tendo dito isto, clamou com grande voz: Lázaro, sai para fora. E o
defunto saiu, tendo as mãos e os pés ligados com faixas, e o seu rosto envolto
num lenço. Disse-lhes Jesus: Desligai-o, e deixai-o ir. João 11:37-44.
Lázaro era amigo de Jesus e
morreu durante uma viagem do Messias. Quando voltou, Lázaro estava enterrado.
Jesus mandou que abrissem a caverna e que Lázaro saísse. E ele saiu. Hipóteses
possíveis são a narcolepsia ou a catalepsia. Doenças diferentes, mas com o
mesmo efeito: dormir como uma pedra. Com a falta de recursos médicos da época,
poderia ser confundido com morte.
Levanta-te e anda
Jesus, porém, conhecendo os
seus pensamentos, respondeu, e disse-lhes: Que arrazoais em vossos corações?
Qual é mais fácil? dizer: Os teus pecados te são perdoados; ou dizer:
Levanta-te, e anda? Ora, para que saibais que o Filho do homem tem sobre a
terra poder de perdoar pecados (disse ao paralítico), a ti te digo: Levanta-te,
toma a tua cama, e vai para tua casa. E, levantando-se diante deles, e tomando
a cama em que estava deitado, foi para sua casa, glorificando a Deus. Lucas
5:22-25.
Mesmo sem saber que
doença levou o homem a ficar sem andar, é possível levantar algumas hipóteses.
Pessoas com esclerose múltipla podem perder os movimentos e melhorar de
repente. Outra possibilidade é a polirradiculoneurite aguda desmielinizante,
que ataca o sistema nervoso periférico, com o mesmo efeito. Também é possível
que alguém paralisado por conta de uma falta aguda de potássio se recupere
repentinamente.