O Estado de S. Paulo" é o mais antigo dos jornais da
cidade de São Paulo ainda em circulação desde 4 de janeiro de 1875.
Ainda durante o Império, circulava pela primeira vez
"A Província de S. Paulo" - seu nome original. Somente em janeiro de
1890, após o estabelecimento de uma nova nomenclatura para as unidades da
federação pela República, receberia sua atual designação. O jornal foi fundado
por 16 pessoas reunidas por Manoel Ferraz de Campos Salles e Américo
Brasiliense, concretizando uma proposta de criação de um diário republicano
surgida durante a realização da Convenção Republicana de Itu, com o propósito
de combater a monarquia e a escravidão. A cidade de São Paulo desta época já se
encontrava em franco desenvolvimento.
A partir de 1865, quando a cidade contava com cerca de 25
mil habitantes, a ferrovia passou a influenciar decisivamente na aceleração da
urbanização. Desde sua fundação que a espinhosa subida da Serra do Mar se
colocava como um fator restritivo de comunicação com o porto de Santos. Com a
superação deste formidável obstáculo, o potencial comercial da "boca de
sertão" ampliou-se significativamente.
Grandes atacadistas passaram a se concentrar no Brás e no
Pari, região transformada em "porto do planalto". A expansão
comercial foi acompanhada pela instalação progressiva das primeiras indústrias
de bens de consumo popular como velas, fósforos, sabões, chapéus, sapatos,
tecidos, farinhas, biscoitos, massas, móveis, panelas, material de construção,
chocolates e cerveja.
A ferrovia era um desdobramento da economia cafeeira, a
qual vinha se desenvolvendo desde meados do século 19. Capitais acumulados pelo
tropeirismo e pelo açúcar migraram para a nascente economia cafeeira do oeste
paulista, enquanto os cafezais do vale do Paraíba decaiam, seja pelo
esgotamento das terras mal aproveitadas, seja pelas limitações de eficiência do
trabalho escravo.
Os pragmáticos paulistas passaram a procurar o trabalho
assalariado de imigrantes europeus, os quais, além de serem mais produtivos,
ampliavam o mercado consumidor. Assim, a ferrovia vinha para escoar uma
produção crescente voltada para os mercados externos, que por sua vez
desencadeava uma expansão do comércio e da indústria através do mercado
interno. O pouso de tropas e estudantes de Direito havia entrado
inexoravelmente em um ciclo econômico virtuoso em direção à urbanização e à
industrialização.
Contudo, apesar das inovações, era ainda uma pequena cidade
com pouco mais de 30.000 habitantes, na sua maioria tropeiros, funcionários
públicos e estudantes de Direito. Na margem oeste do Anhangabaú ainda se
caçavam perdizes e se pescavam bagres em uma lagoa próxima à Estação da Luz. Em
1875 existiam mais dois jornais diários de algum porte "Correio
Paulistano", fundado em 1854; e o "Diário de São Paulo", de 1865
- ambos extintos.
A importância da fundação de "A Província"
deve-se ao fato de ser o primeiro grande jornal engajado no ideário republicano
e abolicionista, por meio dos textos contundentes de Francisco Rangel Pestana e
Américo de Campos, seus primeiros redatores.
Sua tiragem inicial era de 2.000 exemplares, bastante
significativa para a população da cidade, estimada em 31 mil. Pode-se dizer que
a partir de então o jornal foi crescendo com a cidade e influenciando cada vez
mais a evolução política do país, com a enorme responsabilidade de ser o
principal veículo da mais republicana das cidades brasileiras.No início de
1888, meses antes da proclamação da República, Euclides da Cunha, então um
jovem redator republicano expulso do Exército passa a colaborar com O Estado, sob
o pseudônimo de Proudhon. Neste mesmo ano "A Província" atingia a
marca de 4.000 assinantes. Em janeiro de 1890, já com o nome de "O Estado
de S. Paulo", a tiragem havia dobrado: 8 mil. Em 1896 a tiragem não
consegue ultrapassar os dez mil exemplares, não por falta de novos leitores,
mas devido às limitações do equipamento gráfico. Porém, uma nova máquina é
adquirida e a tiragem pula para 18 mil exemplares durante a campanha de
Canudos, quando eram ansiosamente aguardadas as reportagens enviadas por Euclides
da Cunha através do telégrafo.
Em 1902, Júlio Mesquita,
redator desde 1885 e genro de José Alves de Cerqueira César, um dos 16
fundadores, torna-se o único proprietário. Nesta época a cidade atingia a marca
de 250 mil habitantes, metade dos quais italianos. Dois anos antes havia
circulado o primeiro bonde elétrico e em 1901 inaugurada a primeira usina
hidrelétrica para fornecimento regular de luz e força para a cidade.
A modernização do jornal
acompanhava o espantoso crescimento da cidade que havia decuplicado sua
população nos 35 anos posteriores à chegada da ferrovia. Neste mesmo ano Júlio
Mesquita e Cerqueira César lideram a 1ª dissidência republicana, iniciando a
partir de então uma linha de oposição sistemática aos governos estadual e federal.
Durante todo o transcorrer
posterior da chamada República Velha (até 1930) o jornal se colocou ao lado dos
contestadores do viciado sistema eleitoral conhecido pejorativamente como
"bico-de-pena", caracterizado pelo voto em aberto e manipulação fraudulenta.
Em 1909 apoia a candidatura de Ruy Barbosa à presidência da República, a
chamada "Campanha Civilista", em oposição ao candidato oficial, o
Marechal Hermes, um militar.
Em 1924, logo após a Revolução
que ocupou a cidade de São Paulo por 23 dias, Júlio Mesquita foi preso a mando
do governo federal apenas por ter dialogado com os revolucionários. Apesar da
neutralidade de "O Estado", concordante com as críticas dos
revolucionários ao governo federal, mas discordante da sublevação militar como
meio de contestação.
Em 1926 "O Estado"
apoiou a fundação em São Paulo do Partido Democrático, de oposição ao PRP,
então detentor do governo estadual e federal.
Em 1930 o jornal apoiou a
"Aliança Liberal" e a candidatura de Getúlio Vargas à presidência, em
oposição a Júlio Prestes, o candidato oficial do PRP. Neste mesmo ano atinge a
tiragem de 100 mil exemplares e lança aos domingos um Suplemento em Rotogravura,
com grande destaque às ilustrações fotográficas. Enquanto isto a população da
cidade alcança a marca de 887.810 mil habitantes.Em 1932, "O Estado"
e o Partido Democrático, inconformados com o autoritarismo de Getúlio Vargas e
com o tratamento hostil reservado a São Paulo pelos "tenentes",
formam uma aliança com alguns setores do PRP e articulam a Revolução
Constitucionalista de 32, a qual eclode em 9 de julho. A posição do jornal, da
cidade e do estado de São Paulo é uma só : reivindicação de eleições livres e
de uma Constituição. Em outubro, com a derrota dos revolucionários, Júlio de
Mesquita Filho e Francisco Mesquita foram presos pela ditadura e expatriados
para Portugal.
No ano seguinte, no mês de
agosto, Getúlio Vargas convida Armando de Salles Oliveira para ser o
interventor federal em São Paulo. Armando Salles, que era genro de Júlio
Mesquita (já falecido então) impõe como condição para aceitar o posto a anistia
aos revoltosos de 32 e a convocação de uma assembléia constituinte. Vargas
concorda e Júlio de Mesquita Filho e Francisco Mesquita, assim como dezenas de
outros expatriados retornam ao país. Mesmo derrotados militarmente os
constitucionalistas alcançaram seus objetivos políticos.
Em 25 de janeiro de 1934, o
então governador Armando de Salles Oliveira assinou o decreto de criação da
USP, uma idéia lançada pelo jornal ainda em 1927 através de uma campanha
liderada por Júlio de Mesquita Filho. E ele próprio foi incumbido pelo
governador de arregimentar os professores estrangeiros que viriam formar o
corpo docente da Faculdade de Filosofia, com destaque para os jovens Fernand
Braudel, Claude Lévi-Strauss, Roger Bastide, Pierre Monbeig, Ungaretti e muitos
outros que se tornariam famosos posteriormente. Em 1951 foi instituído o troféu
SACI, prêmio da crítica aos melhores profissionais de teatro e cinema, que se
constituiu no mais importante certame cultural durante os anos 50 e parte dos 6.
Editorialmente o jornal sempre manteve sua linha de apoio à democracia
representativa e à economia de livre-mercado.
Em 1964, "O Estado"
apoiou o movimento militar que depôs o presidente João Goulart ao constatar que
o mesmo já não tinha autoridade para governar. No entanto, entendia que a
intervenção militar deveria ser transitória. Quando se evidenciava que os
radicais de extrema direita aumentavam sua influência, objetivando a
perpetuação dos militares no poder, O Estado retirou seu apoio e passou a fazer
oposição.
Em 1966 o Grupo Estado
aumentou consideravelmente seu envolvimento com a cidade ao lançar o Jornal da
Tarde, um diário com um acompanhamento especial dos problemas urbanos.
Dois anos depois tanto O
Estado de S. Paulo como o Jornal da Tarde passaram a ser censurados pela sua
posição contrária ao regime militar, resistindo bravamente com a denúncia da
censura através da publicação de poemas de Camões e receitas culinárias, respectivamente,
em lugar das notícias proibidas. A censura só seria retirada em janeiro de 1975
com o projeto de distensão política iniciado pelo governo do general Ernesto
Geisel. Em fevereiro de 1967 a tiragem de "O Estado" ultrapassa
340.000 exemplares. No dia 25 de setembro a AII (Associação Interamericana de
Imprensa) protesta contra a censura sofrida pelo "Estado" ao comentar
a morte do ex-presidente Castello Branco.
No dia 13 de dezembro de 1968
"O Estado" é impedido de circular por ordem da ditadura militar.