Carioca da gema, o ícone Tim
Maia nasceu e cresceu na Tijuca, onde fez parte de um grupo de amigos que iria
mudar para sempre a cara da MPB. Dessa turma faziam parte: Roberto Carlos,
Erasmo Carlos e Jorge Ben Jor. Durante décadas, Tim colecionou sucessos,
conquistou seu lugar no coração do povo brasileiro e se consolidou como um
ídolo eterno.
A voz potente, o senso rítmico
aguçado e o carisma inigualável foram os elementos que marcaram o estilo
inconfundível do Síndico do Brasil, que influenciou artistas como Roberto
Carlos, Jorge Ben Jor, Marisa Monte, Jota Quest, Ivete Sangalo, Racionais MC's
e mais uma legião de craques da MPB. Pai da Soul Music brasileira morou por
cinco anos nos EUA, bebendo na fonte sendo influenciado pelo Funk e Soul. Uma
overdose à la Motown. Foi eleito pela revista Rolling Stone Brasil o 9º maior
artista da música brasileira (Fonte: Rolling Stone Brasil
Indomável, foi o primeiro
artista brasileiro completamente independente das grandes gravadoras. Para
conseguir total liberdade artística e controle financeiro do seu trabalho,
fundou a editora Seroma e a gravadora Vitória Régia Discos.
Após se consolidar como um
empresário de sucesso na indústria fonográfica, continuou emplacando grandes
hits até a sua morte em 1998.
Tim Maia deixou um gigantesco
legado que marcou profundamente a história da música brasileira e mundial.
Primeiros Anos
Sebastião Rodrigues Maia
nasceu no dia 28 de setembro de 1942, na Rua Afonso Pena 24, coração do
tradicionalíssimo bairro da Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro. Por volta dos
sete anos, já compunha suas primeiras músicas. Formou em 1956 o seu primeiro
conjunto musical, Os Tijucanos do Ritmo que faziam o circuito das paróquias
cariocas com certa influência de artistas como Trio Los Pancho, Sonora
Matancera e Perez Prado. O conjunto não durou por muito tempo após uma
discussão e quebra de um violão, mas seu pai um admirador apostou no menino
precoce, dando-o como incentivo outro instrumento. Em 1957 forma o grupo
Sputniks.
Rumo à América
Antes de completar dezessete
anos, viajou para os EUA criando o conjunto “The Ideals” gravando a música New
Love, de sua autoria. Com um grave semelhante ao de Barry White, contaminado
pela sonoridade dos “The Isley Brothers”, sua jornada americana terminou na
América do Norte sendo forçado a retornar ao seu país de origem.
O Caminho para o Sucesso
Em 1968, produziu o disco
"A Onda É o Boogaloo", de Eduardo Araújo. Pioneiro, Tim foi o grande
responsável por trazer a sonoridade da soul music para a Jovem Guarda. Mas a
grande virada veio mesmo quando o já consagrado Roberto Carlos gravou uma
canção de sua autoria, "Não Vou Ficar", para o álbum Roberto Carlos
(1969). A canção que também fez parte da trilha sonora do filme Roberto Carlos
e o Diamante Cor-de-rosa, foi um grande sucesso e ajudou a abrir várias portas
para que Tim pudesse partir enfim, para o seu primeiro trabalho solo, um
compacto lançado pela CBS em 1968, que trazia duas músicas de sua autoria
chamadas "Meu País" e "Sentimento”.
Sua carreira no Brasil se
consolidou a partir de 1969, quando gravou um compacto simples pela Fermata com
"These Are the Songs" (regravada no ano seguinte por Elis Regina em
duo com ele e incluída no álbum "Em Pleno Verão", de Elis) e
"What Do You Want to Bet".
A partir daí o nome de Tim
Maia ganhou enorme projeção entre músicos e executivos da indústria
fonográfica.
Anos 70
Foi na década de setenta que
Tim Maia finalmente mostrou ao Brasil a força do seu talento.
O caminho para o sucesso foi
pavimentado nos anos anteriores, quando Tim Maia trabalhou com diversos
artistas renomados (Erasmo, Elis Regina, Mutantes), cantou em programas de TV
com o pessoal da Jovem Guarda e fez o seu nome como um músico completo e
talentoso.
Em 1969, o compacto de ”
Primavera”, composição do parceiro de banda Cassiano, explodiu nas rádios e o
catapultou para a fama.
O Estouro
A consagração definitiva veio
em 1970 com "Tim Maia", seu primeiro LP, que foi lançado pela
gravadora Polydor após uma indicação dos Mutantes. O sucesso foi simplesmente
arrasador, o álbum vendeu mais de duzentas mil cópias e se manteve por seis
meses em primeiro lugar no Rio de Janeiro, com destaque para as faixas
"Azul da Cor do Mar", "Coronel Antônio Bento" (Luís
Wanderley e João do Vale), “Primavera (Cassiano) e "Eu Amo Você”. Para
fechar o ano com chave de ouro, Tim gravou “Chocolate”, que originalmente era
um jingle para a Associação Brasileira dos Produtores de Cacau e se transformou
em mais um enorme sucesso.
Nos três anos seguintes, ainda
na Polydor, lançou mais três LP´s homônimos que foram grandes êxitos de
vendagem e execução nas rádios. Canções como "Não Quero Dinheiro (Só Quero
amar)", "Gostava Tanto de Você" (Edson Trindade) e "Réu
Confesso" caíram no gosto do povo e animaram festas e bailes por todo o
país.
Racional: Em Busca da
Imunização
Na década de 1970, conheceu
Manuel Jacintho Coelho, líder da polêmica doutrina Cultura Racional. Tim
mergulhou de cabeça nas ideias do guru ao ler a série de livros chamados de
“Universo em Desencanto” e mudou de forma drástica seu estilo de vida, que de
desregrado e boêmio, passou a ser disciplinado e saudável. A influência da
Cultura Racional também atingiu a música e Tim decidiu fazer dois álbuns
chamados Tim Maia Racional, volumes Um e Dois, ambos lançados pelo seu próprio
selo batizado de Seroma (palavra “amores” ao contrário e abreviação do próprio
nome, “Sebastião Rodrigues Maia”).
Esses discos são considerados
verdadeiras obras-primas, principalmente pela fortíssima pegada de soul e funk,
e pela ótima forma física que foi extremamente benéfica para a qualidade de sua
voz.
Depois Tim Maia se decepcionou
com a Cultura Racional, se desentendeu com o Mestre Manuel e abandonou a seita.
Ele retirou de circulação os discos que se tornaram valiosos itens de
colecionadores. O sucesso “Imunização Racional” é apenas uma de várias pérolas
presentes nesses trabalhos.
Nos anos 2000 novas faixas
deste período foram descobertas, elas acabaram se tornando o disco
"Racional Volume Três", com destaque para as canções: "You Gotta
Be Rational", "Escrituração Racional", "Brasil
Racional", "Universo em Desencanto Disco", "O Grão-Mestre
Varonil", "Do Nada ao Tudo" e "Minha Felicidade
Racional", foram disponibilizadas na Internet e posteriormente lançadas em
CD em agosto de 2011.
Em Família
Em 1975, Tim realizou o grande
sonho de ser pai, e no dia 24 de janeiro, Carmelo Maia veio ao mundo.
Uma curiosidade: Tim o
registrou como Carmelo, mudou de ideia no mesmo dia e anunciou para toda
família que Telmo tinha sido o nome escolhido. “Telmo” passou anos sem saber
que seu nome de batismo era Carmelo, e só descobriu seu nome verdadeiro quando
entrou para a escola.
Carmelo, o orgulho de Tim
Maia, se formou em direito, artes cênicas e hoje administra a Seroma Produções
e a Vitória Régia Discos.
Nos Embalos da Discoteque
Depois da fase racional, em
1978, Tim Maia aproveitou a explosão da “disco music e fez um dos seus discos
mais populares e conceituados, o seminal “Tim Maia Disco Club”, que lançou um
dos seus maiores hits, o petardo “Sossego”.
O álbum teve a participação de
um supertime de músicos como Banda Black Rio, Hyldon, Pepeu Gomes e várias
outras feras.
Anos 80
Chegar ao topo é uma coisa,
permanecer é outra. Nos anos 80 Tim manteve a pegada e bombardeou as paradas de
sucesso com uma coleção de hits inesquecíveis. A década começou quente com o
grande sucesso “Você e Eu, Eu e Você (Juntinhos) ”, e se manteve fervendo por
todos os anos posteriores.
Navegando Pelas Águas do
Sucesso
Não teve para ninguém, durante
a década de oitenta Tim Maia reinou absoluto como o cantor mais popular do
Brasil. Nenhum outro artista conseguiu emplacar tantas músicas de forma tão
consistente.
Em 1981 "Do Leme ao
Pontal", lançado no lado B do compacto "Amiga", incendiou o
verão e se tornou num dos seus grandes clássicos inesquecíveis.
Em 1982, com Sandra de Sá,
gravou a arrebatadora "Vale Tudo".
Em 1983 o LP “O Descobridor
dos Sete Mares” rapidamente se transformou em outro arrasa-quarteirão que
arrebentou nas paradas e conquistou as rádios de todo o país, com destaque para
a canção-título “ O Descobridor Dos sete Mares” (Michel e Gilson Mendonça) e a
balada românica “Me dê Motivo” (Michael Sullivan/Paulo Massadas).
Em 1985 repetiu a parceria
vitoriosa com Sullivan e Massadas e gravou “Um Dia de Domingo”, num dueto com
Gal Costa.
E foi assim até o final da
década onde músicas como "Telefone", "Pede a Ela",
"Leva", "Pudera", "Paixão Antiga", "Tudo em
Cima" e tantas outras fizeram o povo dançar e se emocionar.
Anos 90
A década de 90 foi marcada por
um impressionante volume de trabalho e muitos problemas de saúde, mas mesmo
assim Tim Lançou nove discos em apenas sete anos e conquistou uma nova geração
de fãs.
Além da aclamação popular, Tim
Maia também foi o artista mais consagrado pela crítica nesse período, vencendo
por cinco vezes o atualmente conhecido como Prêmio da Música Brasileira (antigo
prêmio Sharp) em 90,92,93,95 e 97.
Seroma: O Grito de
Independência
Depois de muitos problemas com
as gravadoras, Tim Maia resolveu assumir por completo o controle de sua
carreira. Voltou com ideia da Seroma e direcionou suas energias para a Vitória
Régia Discos, por onde passou a lançar seus trabalhos.
A Todo Vapor
Nesse período vários medalhões
do pop brasileiro como Titãs, Marisa Monte e Paralamas do Sucesso gravaram suas
canções. Tim retribuiu a gentileza e gravou “Como Uma Onda”, de Lulu Santos e
Nelson Motta, que foi trilha de um comercial de TV muito popular, e se transformou
num grande sucesso.
Em 1992 amigo de longa data
Jorge Ben Jor estava na crista da onda e imortalizou o apelido de “Síndico do
Brasil” no refrão do grande sucesso W/Brasil, de 1992. A homenagem impulsionou
ainda mais a carreira de Tim durante a década de noventa.
Depois de conquistar sua
independência com a Seroma e a Vitória Régia, Tim Maia aumentou sua
produtividade e entrou na fase mais prolífica e versátil de sua carreira.
Chegou a gravar diversos discos por ano em diferentes estilos como bossa nova, funk,
soul, baladas românticas, standarts americanos e hinos dos grandes clubes
cariocas.
Um Banquinho e um Violão
Como muitos músicos de sua
geração, Tim Maia também sofreu um tremendo impacto quando João Gilberto lançou
o mítico “Chega de Saudade”.
Mas foi apenas em 1990 que ele
se voltou para suas raízes cariocas e fez o belíssimo discos "Tim Maia
Interpreta Clássicos da Bossa Nova", totalmente aclamado por público e
crítica. Em 1997 repetiu a dose com “Amigos do Rei – Tim Maia e os Cariocas.
O Adeus
Em 1998, durante uma
apresentação no Teatro Municipal de Niterói, passou mal e teve que deixar o
palco numa ambulância. Após complicações cardiovasculares, ficou internado
durante uma semana no hospital vindo a falecer no dia 15 de março de infecção
generalizada.
Mesmo anos depois de sua
morte, Tim Maia ainda é um fenômeno de popularidade. Seu nome rende mais de
duzentas mil buscas por ano no Google, e sua música permanece viva como trilha
sonora de festas, sonhos e paixões de milhões de fãs espalhados pelo mundo.
Prêmios e Homenagens
Em 1988, 1990, 1992, 1993,
1995, 1997 foi o vencedor do prestigiado Prêmio da Música Brasileira na
categoria de melhor cantor.
Em 2004, a Som Livre lançou o
álbum Soul Tim: Duetos, onde vários artistas, como Luiz Melodia, Fat Family,
Claudinho e Buchecha, realizaram duetos póstumos (através de recursos
tecnológicos, semelhante à gravação de "Unforgettable" por Nat King
Cole e a filha Natalie Cole).
Em janeiro de 2001, o
guitarrista Robin Finck do Guns N' Roses tocou uma versão de
"Sossego", durante a apresentação da banda no Rock In Rio III.
Em 2007, a Rede Globo de
televisão homenageou Tim no especial Por Toda a Minha Vida.
Também em 2007, o jornalista e
produtor musical Nelson Motta, amigo e fã de Tim, lançou o best-seller
"Vale Tudo - O Som e a Fúria de Tim Maia" (pela Editora Objetiva). Em
2009, foi homenageado no programa Som Brasil com participações de Leo Maia, Seu
Jorge, Thalma de Freitas, Marku Ribas, Carlos Dafé, Taryn Spielman e a banda
Instituto.