Num vídeo do YouTube, uns
camaradas ateus tentam mostrar a um camarada cristão que a Bíblia não é uma
prova da existência de Deus.
Afinal, se um livro é a prova
da existência de algo, é melhor tomarmos cuidados com Sauron e pedirmos ajuda a
Frodo. O cristão – ao que parece defensor do ensino do criacionismo nas escolas
estadunidenses -, argumenta que O Senhor dos Anéis é um livro muito recente
para provar o que quer que seja.
E o ateu então joga a Ilíada e
a Odisseia como livros mais antigos que a Bíblia e que, então, serviriam para
provar a existência de Ciclopes e outros seres mitológicos.
E disse, ao ser inquerido, que
a Ilíada e a Odisseia seriam sim mais antigas que a Bíblia. Confesso que,
embora eu tenha entendido o ponto deles (que algo estar escrito em um livro não
serve como evidência de nada), achei que pudesse haver um erro cronológico ali.
Embora editada como a conhecemos
hoje ela seja bem mais recente, o livro mais antigo da Bíblia data de algo
entre 1600 a 1400 a.C. Segundo esta fonte, seriam os cinco primeiros livros
escritos por Moisés, conhecidos como Pentateuco ou Torá, entre 1450 e 1410 a.C.
No entanto, a Odisseia e a
Ilíada em todas as minhas pesquisas deram datas como 800 antes de Cristo
aproximadamente. Portanto, bem mais jovens que o mais antigo livro do
Pentateuco. Claro que a tradição oral que o suposto Homero organizou é ainda
mais ancestral. Mas ainda assim.
Pensei então na possibilidade
de o Mahabharata ser mais antigo. Mas isso faz menos sentido ainda. As invasões
bárbaras arianas ao Vale do Indo que proporcionaram o livro (segundo esta
fonte, bhárata quer dizer “saqueador”), que tem sete vezes mais versos que a
Ilíada e a Odisseia juntas, teriam acontecido por volta de 1500 a.C. De fato, o
livro data do século II depois de Cristo e alguns historiadores estendem essa
data para o século IV depois de Cristo.
Fiz então o que qualquer
criatura sensata do século 21 faz e procurei no Google: “ o livro mais antigo
“. Muitos resultados apontaram para o I-Ching. Não satisfeito, dei mais uma
especulada e encontrei um artigo genérico sobre o livro na Wikipédia.
Em curiosidades há uma
referência de que o livro mais antigo seria A Epopeia de Gilgamesh.
A Epopeia de Gilgamesh é a
história de um rei sumério da cidade-estado de Uruk que teria vivido no século
XXVIII a.C. Seu registro mais completo provém de uma tábua de argila escrita em
língua Acádiaséculo VIII a.C. pertencente ao rei Assurbanipal, tendo sido, no
entanto encontradas tábuas com excertos que datam do século XX a.C., sendo
assim o mais antigo texto literário conhecido.
Note que, nesse caso, estamos
adotando o seguinte critério: livros, neste caso estrito, seriam textos
literários e escritos. Excluímos desse modo a oralidade, em muitos casos
irrastreável, e expandimos a pesquisa para além dos volumes como os conhecemos
hoje.
Pois, de verdade, os livros
neste formato só surgiram muito recentemente, primeiro como códice no século IV
– com pergaminhos costurados, feitos da pele de animais, substituindo os
papiros, que ficavam em torno de rolos de madeira.
E só depois impressos, em
papel: primeiro na China em 1405 e, então, por Gutenberg, em 1455. De qualquer
maneira, deixo a questão em aberto. Seria, de fato, a Epopeia de Gilgamesh o
texto literário escrito mais antigo de que se tem notícia?