Havia uma zona em Curitiba
conhecida por Quarteirão do Tigre, redondezas da Rua João Negrão, estendendo-se
para oeste. Seria o que hoje é mais ou menos o Bairro Rebouças. Ali, jovens
moradores formaram e denominaram duas equipes: Leão e Tigre.
Em 1914, um jogo entre os dois
foi vencido pelo Tigre pelo escore de 2 a 1 e na churrascada que se seguiu, em
ânimo de confraternização, decidiram os dirigentes de ambas as facções se
fundirem a fim de disputar, em condições de igualdade, os torneios da cidade.
Surgiu, assim, o Britânia Sport Club, nome dado em homenagem à Grã-Bretanha,
berço do futebol.
O sucesso da nova agremiação
foi indiscutível, embora em 1915, ano do primeiro campeonato organizado
reunindo equipes de Curitiba e Paranaguá, tenha sido relegado à segunda
divisão. No ano seguinte, todavia, já envergava um vice-campeonato.
Curioso é que, em 1917, surgia
uma figura interessante, mas complexa, que mais tarde viria a ser conhecida
como tapetão: o Britânia, inconformado com derrota diante do Coritiba, alegando
prejuízos face arbitragem facciosa, desiste de repente do campeonato. Por outro
lado, o América se vê na contingência de fundir-se com o Paraná, resultando daí
o América-Paraná, nítido arranjo em termos de sobrevivência. As ligas, então
distintas em 1916, uniram-se, unificando também os critérios. Ficavam assim
valorizadas as disputas diretas entre as equipes. Em consequência, o forte
América-Paraná foi o campeão do ano.
Mas vieram os anos de 1918,
1919, 1920, 1921, 1922 e 1923: hegemonia incontestável do Britânia. O
hexacampeonato do Britânia fora um tormento! Uma pedra no sapato dos demais. O
International e o América foram campeões, respectivamente, em 1915 e 1917. O
Coritiba em 1916. Depois disso só deu Britânia, socialmente uma equipe frágil.
Além disso, não possuía nem tradição nem popularidade e sequer dispunha de
apoio de uma colônia. Apesar de tudo, abocanhou seis títulos seguidos.
Numa época de implantação como
aquela, o fato era fundamentalmente negativo. A hegemonia de um grupo pequeno e
isolado fatalmente abalaria o estímulo, o entusiasmo. O América, popularíssimo;
o International idem, afora a cobertura que detinha dos tradicionais troncos
provincianos; o Coritiba, toda uma colônia. O problema era sério. Não bastassem
os brios altamente feridos!
Além de tudo, alguns problemas
paralelos: o América não havia pago dívida contraída perante a liga regional,
resultando no fato de o campeão da segunda divisão, o Universal, solicitar
inscrição na vaga naturalmente aberta pela punição de cancelamento incidente
sobre o América. O jogador americano, Ernesto de Moura Brito, mais do que
depressa, paga a dívida junto à liga, o que a obriga a uma salomônica decisão:
determinar jogo extra entre América e Universal, como critério para ocupar a
tal vaga para o campeonato de 1923.
O jogo transcorria normalmente
e, quando estava 3 x 3, foi marcado um pênalti contra o América. Uníssono ao
primeiro grito de Marrecão, capitão da equipe e expulso imediatamente, o
América retira-se do gramado e perde a vaga por desistência. Três dias depois,
como saída encontrada e já dando largas a comentários e desejos recônditos,
próceres do América e do International reuniram-se para tratar da fusão entre
as duas agremiações. Mas discordaram quanto às cores da camisa. E nisso, passou-se
um ano.
Em março de 1924, porém, os
dirigentes se entenderiam: o desportista Luiz Guimarães - Zalacain -, ex
goal-keeper americano, empresário, jornalista e editor esportivo, ligado por
laços de parentesco aos Gonçalves, família a que pertencia Marrecão, além de
dar-se muito bem com a elite tradicional do International, teve ação decisiva
relativamente às providências. Sob a presidência de Arcésio Guimarães,
presidente do Internacional, uma Assembléia Geral aconteceu. A união de
Internacional e América foi concretizado no dia 21 de março de 1924 e no dia
26, oficialmente, foi empossada a diretoria do novo clube.