O Facebook e as cobaias
involuntárias
Em junho de 2014, surgiu um
artigo científico de arrepiar. Assinado por um cientista da Universidade de
Cornell e por pesquisadores do Facebook, ele contava como o site manipulou a
timeline de 689.003 pessoas, ao longo de uma semana, sem que elas soubessem. O
objetivo era saber se, mexendo no conteúdo da timeline, o Facebook conseguiria
alterar o humor dos usuários.
A resposta foi sim. Quando o
Facebook omitia posts alegres, as pessoas ficavam mais tristes - usavam mais
palavras negativas em suas mensagens. E vice-versa. A conclusão do estudo é
clara: ''As mensagens online influenciam nossas emoções e comportamento''.
Assim que ele foi publicado, o Facebook recebeu uma saraivada de críticas.
Algumas diziam que o estudo
violou a ética científica (porque não se pode transformar alguém em cobaia sem
o consentimento da pessoa), outras que a experiência foi simplesmente cruel. O
Facebook alegou que, quando criaram seus perfis no site e aceitaram os ''Termos
de Uso'', as pessoas haviam automaticamente consentido em participar do estudo.
Mas pediu desculpas pela experiência.
O Facebook continua
manipulando o que você vê na sua timeline. Isso é definido por um algoritmo que
se chamava EdgeRank, foi criado pelo próprio Face e originalmente seguia três
critérios: afinidade (o quanto você interage com o autor daquele post), engajamento
(número de likes, comentários e compartilhamentos que o post teve) e tempo
(notícia velha não tem vez).
Hoje, o algoritmo é muito mais
complexo - segundo o Facebook, calcula mais de 100 mil variáveis, ajustadas de
acordo com cada usuário. A empresa não diz quais são, inclusive por um segredo
comercial - do contrário, o algoritmo poderia ser copiado por outras redes
sociais. Mas há quem diga que o sigilo também é uma maneira de adulterar o
conteúdo distribuído aos usuários para lucrar em cima disso (leia na reportagem
a seguir).
''O Facebook está na fronteira
do eticamente questionável. Às vezes ele é ético, às vezes é antiético. Ele te
dá benefícios, mas cobra por isso'', diz Raquel Recuero, professora de
comunicação da Universidade Católica de Pelotas e pesquisadora de redes
sociais.
É comum ver usuários do
Facebook desconfiados com as políticas da empresa, ou temerosos de que ela
tenha informações demais. Se você é um deles, há uma boa maneira de buscar
respostas: solicitar o download de todas as informações que o Facebook coletou
sobre você. Recebi um pacote de arquivos que totalizavam 28 megabytes. Todas as
fotos e vídeos que eu publiquei na rede estavam lá.
Todos os meus chats, todas as
cutucadas que eu recebi (uma única, em 5 de setembro de 2014, de uma pessoa que
eu não conheço - fiquei chateado), todos os eventos para os quais fui
convidado, incluindo os que eu ignorei. Se eu tivesse um post privado (não
publicado), estaria lá também. Posso ver todas as atividades do meu mural e até
coisas que fiz em outros serviços. Posso ver as músicas que ouvi no Radio, em
que dia, hora e ordem, pois minha conta nesse serviço de streaming está
conectada ao Facebook.
O prontuário tem muita coisa.
Mas não tem uma coisa extremamente importante: a lista com os sites que eu
visitei. Porque, sim, o Facebook sabe por onde eu andei na internet. Sabe
quando você entra num site, qualquer um, e ele tem um botãozinho que permite
dar like em alguma coisa? Esse botão é uma conveniência para você, e um
mecanismo de monitoramento para o Facebook: quando você entra naquela página,
ele fica sabendo (mesmo se você não apertar o botão de like). Esse sistema
serve para que o Facebook mostre anúncios relacionados às coisas que você pensa
em comprar. Se você entra numa loja virtual e procura uma geladeira, por
exemplo, essa informação é passada para o Facebook - que passa a exibir
anúncios de geladeiras.
''O Facebook poderia tomar
ações mais fortes para permitir que as pessoas tivessem mais privacidade. Mas
isso vai contra o modelo de negócio dele'', diz Recuero. O mecanismo está
presente em grande parte da internet, inclusive em sites que nada têm a ver com
comércio eletrônico, e permite que o Face grave os seus passos pela web,
silenciosa e ininterruptamente.
Parte da publicação da revista
Superinteressante:
O lado Negro do Facebook http://super.abril.com.br
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