AS FOTONOVELAS
UMA HISTÓRIA
DE ASCENSÃO E QUEDA

As heranças da narrativa com
imagens já existem há 15.000 anos antes de Cristo, as pinturas rupestres já
traziam sequências de ações, caçadas e atividades comunitárias da época. Outras
evoluções determinantes na questão da narrativa ocorreram com a transposição da
forma de comunicação oral para o código escrito.
Os egípcios há 5.000 anos, já
pintavam sequências de imagens relatando a vida dos faraós e da sociedade ao
seu redor, assim como várias outras civilizações, mesclando símbolos gráficos
para a representação fonética. Na Idade Média, as iluminuras dos pergaminhos e
livros serviram para complementar o entendimento da narrativa escrita.
Alexandre Valença Alves Barbosa citando Christiansen e Magnussen em sua
dissertação de mestrado, faz um histórico sobre os quadrinhos e nos remete a
essas características também na cultura Maia: Essa mescla de texto e imagem não
ficou restrita apenas na Europa e Ásia menor.
O Folhetim antecedeu a
fotonovela e consistia em uma nova forma de contar histórias no jornal. Segundo
Maria Imaculada Cavalcante (2005, p. 64) autora do artigo Do Romance
Folhetinesco às Telenovelas: “O folhetim é desde seu nascimento, o romance
publicado no rodapé dos jornais, por sua vez, vendido a preços baixos e com grande
tiragem, sofrendo grande influência da produção jornalística voltada para o gosto
do público urbano”
Durante todo o século XX, o
folhetim reedita histórias de sucesso. O grande público atraído por essa
leitura não se interessa por conhecer seus autores, pois não é a personalidade
desses que importa, mas sim os personagens que vivem papéis heroicos pelas
causas da justiça e do amor. Leitores fiéis acompanham periodicamente as
histórias, não exigindo uma grande literatura, todo o interesse se volta para
as narrativas, dramas e tramas. Parece haver preferência por temas amorosos,
fantásticos e dramáticos.
Do folhetim a fotonovela ainda
herdou a fragmentação em periódicos, presente em algumas revistas, buscando
satisfazer o gosto do leitor consumidor com intrigas e divertimento
intencionalmente voltados para prender a atenção e conquistar os consumidores
para leitura dos próximos capítulos e consequentemente a venda de novos
exemplares.
Os espaços dos folhetins
também foram favoráveis para o surgimento das célebres tiras, com traços
estilizados e o enfoque predominantemente cômico. Após, juntando essas tiras
formavam-se histórias em quadrinhos. De acordo com Alexandre Valença Alves
Barbosa (apud GONÇALO, 2006): Na década de 30, os norte-americanos tiveram a
ideia de fazer um compêndio das tiras de jornal em um único exemplar criando
assim a revista de histórias em quadrinhos ou Comic Book. Até então, as
histórias eram encartadas nos jornais e vendidas como suplementos. (p. 40). Essa
sequência de planos presentes nos quadrinhos e também no cinema, antecede a diagramação
da fotonovela, mas sem dúvida um dos fatores mais importante para a fotonovela
é o advento da fotografia.
Os primeiros indícios desse
formato com fotos e narrativa, foram vistos nos cartazes de filmes e anúncios
publicitários, que traziam um resumo do que estava por vir nos cinemas. As
fotonovelas, como as conhecemos, surgiram na década de 40 na Itália após a II
Guerra Mundial, chamadas fotoromanzi ou fumetti, esse último utilizado também
para definir os quadrinhos, referindo-se ao espaço das falas parecido com
fumaça.
Em seu princípio, revistas de
fotonovelas publicavam adaptações de filmes, segundo E-Dicionário de Termos
Literários editado e organizado por Carlos Ceia: O neorrealismo em voga na
Itália determinou as descrições quotidianas e a temática urbana e realista
presente nas fotonovelas. Os iniciadores da fotonovela em Itália foram Stefano
Reda e Damiano Damiani que começaram por publicar em revistas adaptações de
filmes de sucesso (o chamado cine-romance que adaptou obras como O Conde de Monte
Cristo, O Monte dos Vendavais, Ana Karennina, e A Dama das Camélias). Essas
primeiras fotonovelas eram protagonizadas por atores populares e as revistas tentavam
realçar um determinado tipo de imagem do ator em questão. (Galucho, 2008, s/p).
O sucesso da fotonovela foi
motivado pela popularização do cinema nas décadas de 1940 em diante, que
crescia embora fosse de difícil acesso para o público geral. Não foi à toa que
muitos artistas do cinema foram chamados a participar de fotonovelas,
aproveitando a fama dos mesmos.
Ainda, na década de 1940,
segundo Thomaz Souto Correia (2000, p.181), diretor editorial do livro A
Revista no Brasil, a revista "Encanto", da Coluna Sociedade Editora,
trouxe as primeiras fotonovelas ao Brasil, essas produções eram trazidas de
fora, principalmente da Itália, traduzida e inspiravam-se nos tais folhetins
consagrados, como "A Dama das Camélias" de Alexandre Dumas.
A impressão da "Grande
Hotel", pela editora Vecchi circulou desde 1947, só a
partir de 1950, publicou sua primeira fotonovela, mas antes de adotar essa
novidade a revista publicava histórias de amor em quadrinhos, com um formato
semelhante como pode ser visto na Ilustração 02, se ocupando do mesmo esquema
dos quadrinhos para produzir romances, um misto de melodrama familiar,
aventuras e fantasias em fascículos, quase sempre com final feliz.
A Revista "Grande
Hotel" foi uma das inspirações para o surgimento da revista concorrente
"Capricho", criada em 12 de junho de 1952 pelo então fundador da
Editora Abril, Victor Civita. Era uma revista quinzenal, de formato pequeno,
com fotonovelas e histórias de amor desenhadas em quadrinhos, além de outros
tópicos como moda, beleza, comportamento, contos e variedades.
O sucesso no mercado das
revistas teve um certeiro golpe do fundador e atual presidente do Grupo Abril,
Victor Civita, que decidido a inovar, passou a publicar a "Capricho" em
edição mensal, com uma única fotonovela na íntegra, obtendo também uma resposta
rápida de seus leitores.
Em 1956, a
"Capricho" atingiu, até então maior tiragem de uma revista da América
Latina, rompendo a marca dos quinhentos mil exemplares, sucesso que perdurou ao
longo dos anos 1960, que estava relacionado especialmente às fotonovelas por
ela publicadas (CORRÊA, 2000, p.176). Há de se considerar ainda nesse grande
feito, o nível de analfabetismo no Brasil relativamente alto na época.
Na década seguinte, 1960, a
revista “Sétimo Céu”, da Editora Bloch, decidiu “abrasileirar” os temas e os
personagens para aproximar-se dos leitores. Foi a primeira a produzir fotonovelas
no Brasil, estreladas por cantores como Jerry Adriane, Agnaldo Rayol e atrizes como
Vera Fischer. Faziam parte dessas fantasias os ambientes litorâneos com clima
ensolarado, sungas e biquínis.
Ente 1960 e 1980, mais de 20
títulos de revistas de fotonovelas circulavam no Brasil.
Conforme dados nos cadernos
CEBRAP (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), em que veiculam
resultados relevantes de pesquisas em andamento nesse período, obtemos os dados
em números de tiragem e respectivas vendas, das três revistas mais vendidas no
país no ano de 1975, segundo o IVC (Instituto de Verificação de Circulação) e transcritos
por Camargo e Berezovsky. A revista “Capricho” a mais vendida, só perdia para
as revistas de quadrinhos infantis “Pato Donald”, “Mickey” e “Tio Patinhas”
(cada uma com uma média periódica aproximada de 400 mil exemplares).
A circulação dessas edições
era de âmbito nacional, conforme indicadas nas próprias revistas, a
distribuição abrangia locais como: Manaus, Acre, Amazonas, Pará, Maranhão entre
outras. A maioria tinha como polos de redação e administração a cidade do Rio
de Janeiro, como é caso da revista “Grande Hotel”. Deve ser observado o fato
que essas publicações não atingiam somente as grandes cidades, mas também
pequenas localidades do interior, afastadas dos grandes centros metropolitanos.

Em âmbito mundial, na França,
a primeira fotonovela data de 1949, passando para Luxemburgo e Bélgica logo
depois. Na Espanha a fotonovela surge nos finais dos anos 60 e conta com um
público bastante extenso, chegando somente mais tarde à África do Norte que
como aqui, a maior parte das revistas eram traduções dos originais italianos.
Conforme Isabel Galucho (2008.
S/p) a fotonovela se caracteriza um produto de literatura de massa tipicamente
latino, não tendo ocorrência no mundo anglo-saxônico. De 1950 a 1990, diversos
gêneros de leitura foram tratados em fotonovela, produções nacionais e
internacionais investiram em narrativas, diferentes dos romances de público-alvo
feminino, embora tivessem sido vendidos em menor escala, algumas fizeram
sucesso, com edições contínuas ou especiais.
Vários
crimes e torturas e, ainda, mulheres com pouca roupa estavam sempre presentes
nos episódios. Reedições dessas revistas surgiram na França com o título de
“Satanik”, na Espanha “kiling” e no Brasil na década de 70, com o título
original “Killing”, publicado pela Rio Gráfica Editora.
Na década de 70, apareceram
produções na Argentida pela Editorial Record, vários títulos como “Goldrake”,
“Yorga”, “Ultratumba”, “Arãna Negra”, “Namur”, republicações de “Killing” em
uma mesma linha de enredos com heróis, heroínas e vilões, em que suspense,
terror e climas sensuais eram oferecidos ao leitor. Entre essas produções
podemos destacar a “Arãna Negra” (ilustração 11), estrelada sempre pela atriz
local Linda Peretz, uma heroína misteriosa que trabalha na Inglaterra. Também da
mesma editora a espiã “Namur” (ilustração 12) e o homem lagarto “Yorga” (ilustração
13) pertenciam a essa década.
Para o público infantil a
produção da fotonovela foi pouco explorada, apenas exemplares especiais, como
exemplo revistas do herói japonês Jaspion (ilustração 14), lançadas em 1989
pela editora Bloch. Utilizando imagens de baixa resolução captadas do vídeo,
funcionavam como uma espécie de “quebra-galho”, por não haver revistas em
quadrinhos do personagem que tinha enorme audiência pelas crianças no Brasil.
Devido ao pouco sucesso em fotonovela, apenas três exemplares foram publicados.
Um fator importante enquanto
legislação foi a abrangência dos profissionais e artistas que trabalhavam com
fotonovela em 1978, Decreto nº 82.385, assinado pelo então presidente Ernesto
Geisel, Regulamentou a Lei nº 6.533, de 24 de maio de 78, que dispõem sobre as
profissões de artistas e de técnicos em Espetáculos de Diversões. No quadro anexo
a esse decreto encontram-se os títulos e descrições das funções, em que se desdobram
as atividades de artistas e técnicos e em especial a fotonovela, descreve as
seguintes Funções: Arte-Finalista de Fotonovela; Assistente de Fotografia de
Fotonovela; Contínuo de Fotonovela; Coordenador de Elenco; Diagramador de
Fotonovela; Diretor de Fotonovela; Diretor de Produção de fotonovela; Redator
Final de Fotonovela; além do Ator e Figurante que já haviam sido englobados no
cinema. (BRASIL. Decreto nº 82.385, 05 out. 1978).
Percebe-se que a fotonovela
depois de toda essa história de interação com o público e suas conquistas em
meio ao mundo de informações visuais se torna um marco quase esquecido. Poucas
são as fontes e estudos que tratam do tema, mas muitas são as recordações que
ainda deixam em seus leitores, pessoas que tinham na fotonovela uma de suas
principais leituras, eram transportados para uma “viagem” gratificante em meio
a lugares e enredos fascinantes.
Todos os créditos para Fonte: asfotonovelas.blogspot.com.br
Montagem e Edição: JF Hyppólito