O choro pode ser considerado
como a primeira música urbana tipicamente brasileira.
Os primeiros conjuntos de
choro surgiram por volta de 1880, no Rio de Janeiro —antiga capital do Brasil—,
nascidos nas biroscas do bairro Cidade Nova e nos quintais dos subúrbios
cariocas.
A composição instrumental
desses primeiros grupos de chorões girava em torno de um trio formado por
flauta, instrumento que fazia os solos; violão, que fazia o acompanhamento como
se fosse um contrabaixo —os músicos da época chamavam esse acompanhamento grave
de "baixaria"—; e cavaquinho, que fazia o acompanhamento mais
harmônico, com acordes e variações.
O choro foi o recurso que o
músico popular utilizou para tocar, do seu jeito, a música importada que era
consumida, a partir da metade século 19, nos salões e bailes da alta sociedade.
A música que os chorões tocavam, porém, logo se distinguiu em muito daquelas
tocadas nos nobres salões cariocas.
Callado tinha grandes
conhecimentos musicais e conseguiu reunir em torno de si os melhores músicos da
época, os quais tocavam pelo simples prazer de fazer música. O repertório
dessas bandas incluía polcas, xotes, tangos e valsas. Entre a turma de Calado
estavam nomes como Viriato Figueira da Silva, Patola, Saturnino, Luizinho e
Silveira. Todos craques em fazer, propositalmente, modulações complicadas com
intuito de "derrubar" os outros músicos.
João Pernambuco |
Sátiro Bilhar, Dino e João
Pernambuco (três excelentes violonistas); Lula Cavaquinho e Nelson Alves
(cavaquinho); Patápio, Pixinguinha e Altamiro Carrilho (mestres da flauta) e
Jacó do Bandolim.
Com o advento do cinema mudo
com orquestra na sala de espera, da indústria fonográfica e do rádio, esses
músicos passaram a se profissionalizar e não precisavam mais trabalhar em
empregos públicos como os primeiros chorões. Entretanto, havia instrumentistas
como Donga que conservaram a atividade extramusical. Donga era violonista e
oficial de justiça.
Hoje, músicos, entre outros,
como Paulinho da Viola, Paulo Moura, Isaías, Hamilton de Holanda, Hélio
Delmiro, Turíbio Santos e também os conjuntos Época de Ouro, Água de Moringa,
Trio Madeira Brasil, premeditando o Breque, Galo Preto e muitos outros, mantêm
em atividade essa manifestação instrumental popular que os grandes centros
urbanos do Brasil produziram e produzem.
Esses grupos eram formados por
músicos —muitos deles funcionários da Alfândega, dos Correios e Telégrafos, da
Estrada de Ferro Central do Brasil—, que se reuniam nos subúrbios cariocas ou
nas residências do bairro da Cidade Nova, onde muitos moravam.
O nome Choro veio do caráter
plangente e choroso da música que esses pequenos conjuntos faziam.
Esse tipo de música também era
conhecido na época como pau-e-corda, porque as flautas usadas naquele tempo
eram feitas de ébano.
As primeiras referências ao
organizador desses conjuntos de pau-e-corda citam o flautista Joaquim Antônio
da Silva Callado, ou apenas, Callado.
Villa Lobos e Pixinguinha |
O choro é marcado pelo ardil
de seus participantes para derrubar aquele que esteja se saindo mais buliçoso,
mais irrequieto que os outros. O choro é uma música feita de arquétipos que
exigem do músico muito domínio de seu instrumento e uma apurada percepção de
códigos e senhas que se encaixam em gigantescos improvisos.
O nascimento do choro e dessa
sua fórmula de improvisação é 50 anos anterior ao jazz, no entanto, se constrói
da mesma forma que a música negra norte-americana, ou seja, é feito como se
fosse um jogo criativo executado com muita habilidade e genialidade.
Portanto, o tão falado
improviso jazzístico já existia no Brasil dos tempos do Império. A construção
inconfundível do choro é marcada pelo tema, as harmonias e as modulações, que
são moldados por um acompanhamento rítmico, armado malandramente para testar o
senso polifônico dos músicos e sua capacidade de improvisar em uma construção
musical extremamente móvel.
Esses primeiros músicos
improvisadores encontravam-se completamente ao acaso e não tinham nenhuma regra
para o número de figurantes ou para o tipo de composição instrumental. Por
causa desta informalidade o choro é hoje feito com a participação de vários
tipos de instrumentos. O que determinava a maneira como cada instrumento iria
participar na música se dava em função da destreza do músico que o tocava, ou
seja, não importava se fosse uma cavaquinhista ou trombonista quem estava
solando na música, o que importava era se ele era suficientemente hábil para
fazer os solos.
Isso fez com que o bom músico
de choro tivesse como condição básica ser também um bom improvisador. No século
seguinte, essa música criada por instrumentistas populares cariocas que eram em
sua maioria mestiços em processo de ascensão social, revelou, entre outros,
grandes artistas como:
Aliás, foi induzido por essa
música que Villa-Lobos criou uma de suas mais importantes composições,
intituladas "Os Choros".