Coloque um quadrado de
chocolate, qualquer chocolate, preto, leite, branco, com frutos secos, na boca.
Deixe-o derreter, desfazer- se.
Vá sentido a consistência, o
sabor, o prazer único, exclusivo, requintado, sofisticado até, que privilegia
quem o come.
E prepare-se para entrar no
mundo, feito de fantasia e também de muito suor e engenho, que está para lá do
prazer de degustar o "ouro castanho"
História
Quando o conquistador espanhol
Hernán Cortez é confundido pelo imperador azteca Moctezuma com o Deus
Quetzalcoatl, cuja vinda à terra os oráculos tinham previsto para esse momento,
não sabia Moctezuma que o pseudo-Deus levaria ao fim da cultura azteca.
Mas também não sabia Cortez
que as favas de cacaueiro que serviam de moeda entre os aztecas, bem como de
bebida dos deuses, elites e povo, e que trouxe consigo no regresso a Espanha,
iam ter um tal impacto cultura na Europa.
Europeizado, ou seja,
adocicado com cana de açúcar e perfumado com baunilha, logo no século XVI, pela
arte de frades que colonizaram a América Central, o cacau batido com água
substituiu o vinho entre os colonos.
Na Europa, espalha-se a partir
do século XVI e o seu consumo terapêutico - as primeiras chocolatarias estão
associadas a farmácias e o cacau é visto como um fortificante desde sempre -
passa a ser também lúdico. A bebida de cacau é solidificada na Inglaterra e
passa a ser vendida em rolos e em pastilhas, a partir de 1674.
É também em Inglaterra que se
dá a industrialização do fabrico de chocolate, no século XIX, e a
democratização do seu consumo, no início do século XX. Feito a partir das favas
de três tipos de cacaueiro, cujo fruto, a cabossa - assim chamada a partir da
palavra cabeça em castelhano -, varia no tamanho - "criollo", mais
frágil, "forastero", o mais forte, e o "trinitario",
conseguido a partir dos outros dois -, o cacau está quotado na bolsa.
Pelo caminho dos séculos,
foi-se desenvolvendo toda uma indústria e uma arte, que passam pela criação do
"praliné" pelo belga Jean Neuhaus, pelo cacau em pó e pela manteiga
de cacau extraídos pelo holandês Van Houten, pelo chocolate de lei criado pelo
suíço Daniel Peter, e o "fondant" criado por outro suíço, Daniel
Lindt.
A Casa Neuhaus: de lá saíram
as primeiras levas do famoso bombom de chocolate. As pralinés originais da
Bélgica completam cem anos Famoso bombom de chocolate foi criado numa farmácia
Hoje em dia já se sabe que não
é afrodisíaco, como os aztecas pensavam, assim como também é dado como certo
que não é um vício. E até já se adaptou às regras de saúde pública, com a
proliferação do fabrico de chocolates com frutose para poderem ser consumidos
por diabéticos. Mas o prazer de saborear um pedaço de chocolate continua
inteiro, completo, total. Como no primeiro dia.
Curiosidades
A forma da primeira garrafa de
Coca-Cola é inspirada na forma do "criollo", o fruto de um dos tipos
de cacaueiro.
A maior maqueta de chocolate
até hoje construída foi a de cidade olímpica de Barcelona, em 1985. Pesava duas
toneladas e tinha dez metros de comprimento.
Em 1569, o Papa Pio V,
autorizou que o cacau fosse usado como bebida para suportar os jejuns.
O chocolate preto faz diminuir
o colesterol total e aumentar o colesterol HDL, que evita o depósito de gordura
nas artérias.
A imagem publicitária mais
forte associada à indústria do chocolate é a vaca lilás da "tablette"
Milka, da Suchard.
A Costa do Marfim é o primeiro
produtor mundial de cacau, mas os países produtores são fracos consumidores. Os
cacaueiros dão frutos, cabossas, durante todo o ano.
Guardar chocolate no
congelador corta o brilho e mata o sabor.